Neura Daluz
Essa matéria me chamou a atenção.
Repassem-na a seus amigos que têm idosos em casa.
Abraço,
Neura
Arnaldo Lichtenstein diz:
Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do quarto ano de Medicina lanço a pergunta: "Quais as causas que mais fazem o vovô ou avovó terem confusão mental?
"Alguns arriscam:
"Tumor na cabeça?
Eu digo: "Não".
Outros apostam: "Mal de Alzheimer?
"Respondo, novamente: "Não".
A cada negativa a turma espanta-se. E fica ainda mais boquiabertaquando enumero os três responsáveis mais comuns:
1.. Diabetes descontrolado;
2.. Infecção urinária;
3.. A família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idososficaram em casa.
Parece brincadeira, mas não é. Constantemente vovô e vovó, sem sentirsede, deixam de tomar líquidos. Quando falta gente em casa paralembrá-los, desidratam se com rapidez. A desidratação tende a ser grave e afeta todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos("batedeira"), angina (dor no peito), coma e até morte.
Insisto: não é brincadeira. Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, isso cai para 70%.
Na fase adulta, para 60%. Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo natural de envelhecimento. Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica. Mas há outro complicador:
mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água, pois osseus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.
Explico: Nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles que verificam a adequação do nível. Quando ele cai, aciona-se automaticamente um "alarme". Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio e de sais minerais em nossas artérias e veias. Por isso, o corpo "pede" água. A informação é passada ao cérebro, a gente sente sede e sai em busca de líquidos.
Nos idosos, porém, esses mecanismos são menos eficientes. A detecçãode falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas.
Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água.
Conclusão: Idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reservahídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seucorpo.
Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam degrandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol.
Basta o dia estar quente ou a umidade do ar baixar muito - como temsido comum nos últimos meses. Nessas situações, perde-se mais águapela respiração e pelo suor.
Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa.
Mesmo que o idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho dasreações químicas e funções de todo o seu organismo.
Por isso, aqui vão dois alertas.
1.. O primeiro é para vovós e vovôs: tornem voluntário o hábito debeber líquidos. Bebam toda vez que houver uma oportunidade. Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite. Sopa, gelatina e frutas ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina, também funcionam. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!
2.. Meu segundo alerta é para os familiares: Ofereçam constantemente líquidos aos idosos. Lembrem-lhes de que isso é vital. Ao mesmotempo, fiquem atentos. Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes dedesidratação.
Líquido neles e rápido para um serviço médico.
Arnaldo Lichtenstein (46), médico, é clínico-geral do Hospital dasClínicas e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica daFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
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