ONU fez ranking dos países
muçulmanos que mais
desrespeitam
mulheres.
No Egito, milhões de mulheres
tiveram órgãos genitais mutilados.
O Líbano, por exemplo, uma sociedade moderna convive com
costumes medievais.
Lá, as mulheres, depois do casamento, passam a ser
propriedade dos maridos e podem ser agredidas, presas e até estupradas sem ter
a quem recorrer.
Será que voltamos
dois mil anos no tempo?
Não exatamente.
É 2014, estamos no Oriente Médio e
muitos homens ainda agem como sultões, em um mundo que eles acreditam que
mulheres existem para servi-los.
Segregação, maus
tratos, mutilação de órgãos genitais, estupros, tortura dentro de casa,
divórcios desejados pelas mulheres, mas dificilmente alcançados e crimes de honra em
que o marido assassino sai praticamente impune.
O Fantástico vai
mostrar mundos que não mudam.
Homens que mandam.
E mulheres que não querem mais
obedecer.
À primeira vista,
pelo menos no primeiro encontro, Beirute, a capital do Líbano, parece um
paraíso da modernidade.
Para os padrões do Oriente Médio, a noite pegando fogo
é muita ousadia.
A primeira vista, a
noite de Beirute é muito parecida com a de São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo
Horizonte, qualquer grande cidade brasileira.
Mas ao entrar na sociedade
libanesa, entendendo um pouquinho melhor, percebe-se logo que as mulheres não
andam nada satisfeitas.
ONU lista países muçulmanos que mais desrespeitam direitos das mulheres.
Um estudo da ONU,
de março deste ano, fez um ranking dos países muçulmanos que mais desrespeitam
os direitos das mulheres.
O Líbano aparece na posição 14 entre 47 países.
No
Egito, segundo a ONU, mais de 27 milhões de mulheres tiveram os órgãos genitais
mutilados.
No Iraque, mulheres são vendidas e estupradas.
Naíma Yazbek é
brasileira, descendente de libaneses por parte de mãe.
Se fosse por parte de
pai, teria cidadania e não seria tratada oficialmente como uma prostituta, o
que acontece com as estrangeiras que trabalham como dançarinas no Líbano.
“Eu tenho que fazer exame de sangue,
porque eu sou dançarina.
Meu visto de trabalho aqui é como
dançarina”, conta Naíma Yazbek, dançarina.
Fantástico: Mas que exame?
Naíma: Exame de AIDS, e de sífilis.
A
cada três meses eu tenho que
pagar o exame, não pode ser
qualquer laboratório,
tem que ser o
da imigração do Líbano.
A dança do ventre é
tradição.
Sensualidade permitida nos países árabes.
Em sociedades onde a
mulher, muito frequentemente, é vista como propriedade dos homens.
“A mulher tem um
papel na sociedade.
Ou ela é para casar ou ela é para ser, aquela mulher para
ser usada”, explica Naíma.
Mulheres libanesas perdem inúmeros direitos após o casamento
Depois do
casamento, a mulher libanesa perde inúmeros direitos.
É quando alguns homens se
sentem poderosos demais.
Fantástico: Te bateu, o que?
Deu um soco na cara?
Naíma: Me bateu, deu soco, me
empurrou.
Quando Naíma foi
até à polícia denunciar o ex-namorado ninguém deu ouvidos.
“Quase riram da
minha cara.
Eles perguntaram: "você foi estuprada, não!
Você foi
machucada, não!
Então eles: ‘Ah, então você, o que que você tá
reclamando?’", lembra a dançarina.
Leis no Líbano concordam que homem deve ter poderes sobre as mulheres
Os casamentos no Líbano seguem leis religiosas, que não tem nada de parecido com o nosso Código Civil Brasileiro.
Os casamentos no Líbano seguem leis religiosas, que não tem nada de parecido com o nosso Código Civil Brasileiro.
As leis muçulmanas
e cristãs, lá, concordam que o homem deve ter poderes sobre as mulheres.
Dados da ONU mostram que no Iêmen, no Kwait, no Sudão, no Barém, na Argélia e em Marrocos, o marido agredir a própria mulher não é crime.
Dados da ONU mostram que no Iêmen, no Kwait, no Sudão, no Barém, na Argélia e em Marrocos, o marido agredir a própria mulher não é crime.
Na Faixa de Gaza,
em 2011, 51% das mulheres sofreram com a violência doméstica.
No Líbano, não existe punição para o marido que forçar a mulher a fazer sexo
com ele.
Vítimas de agressões fotografaram o que representava o sofrimento.
Vítimas de agressões fotografaram o que representava o sofrimento.
As fotografias
foram resultado de um trabalho da ativista Dália Khamissy com dez mulheres que
eram vítimas de violência extrema
dentro de casa.
Escondidas dos maridos, elas fotografaram aquilo que
representava o sofrimento delas.
“Uma era casada com um ex-soldado, que usava nela e nos filhos os mesmos instrumentos de tortura que usava na guerra”, conta a fotógrafa e ativista Dália Khamissy.
“Uma era casada com um ex-soldado, que usava nela e nos filhos os mesmos instrumentos de tortura que usava na guerra”, conta a fotógrafa e ativista Dália Khamissy.
A foto que mais
impressionou Dália, foi a de um chuveiro.
Depois de ser violentada pelo marido,
a mulher desmaiava, e era arrastada até o chuveiro.
Quando acordava, apanhava
mais.
“Se um marido
descobre que a mulher está tendo um caso, ele tem direito de matá-la.
Mas se
ela descobre que ele está tendo um caso e mata o marido, ela é condenada à
prisão perpetua ou morte por enforcamento”, conta Tania Saleh, cantora.
Mulher perdeu virgindade após ser abusada por dois homens
Mulher perdeu virgindade após ser abusada por dois homens
Aisha não mostra o
rosto porque tem vergonha.
Foi abusada sexualmente por um
amigo do pai e por estranhos.
“Eu dei talvez cinco, ou seis goles da bebida que me ofereceram e apaguei.
“Eu dei talvez cinco, ou seis goles da bebida que me ofereceram e apaguei.
Não
lembro de nada.
Acordei no dia seguinte, nua, com os dois
homens do meu lado, também nus.
Então eu descobri que tinha perdido a
virgindade”, lembra Aisha.
Anos depois, Aisha
foi atacada na saída do banheiro de um restaurante.
“Quanto mais eu gritava, mais ele me batia”, conta Aisha.
No fim, o estuprador ainda se sentiu no direito de dar uma lição de moral na vítima.
“Quanto mais eu gritava, mais ele me batia”, conta Aisha.
No fim, o estuprador ainda se sentiu no direito de dar uma lição de moral na vítima.
“Ele disse que se
eu fosse irmã dele ele teria me matado, porque eu estava fora de casa àquela
hora da noite”, diz Aisha.
Aisha não foi à
polícia porque teve medo.
Vítimas de estupro podem ser presas por adultério.
Vítimas de estupro podem ser presas por adultério.
Na Arábia Saudita,
nos Emirados Árabes e no Sudão, vítimas de estupro que procuram a polícia podem
ser presas, por adultério.
E, no Egito, dados
da ONU mostram que desde a queda do ditador Hosni Mubarak em 2011, mais de 90%
das mulheres foram expostas a algum tipo de assédio sexual.
Brasileira conviveu por dois anos com rotina de agressões no Líbano.
A brasileira Sheila
tem duas filhas com um libanês.
Depois de dois anos vivendo em uma rotina de
agressões no Líbano, voltou ao Brasil e se separou do marido.
“Quando você não
sofre violência do seu marido, quem te agride fisicamente são cunhados, são
primos, são outras pessoas da família que têm a liberdade de te corrigir”,
explica a professora Sheila Ali Ghazzaoui.
Consulado brasileiro alerta mulheres brasileiras que pensam em se casar
no Líbano.
Problemas como esse têm sido tão frequentes, e graves,
que o Consulado do Brasil em
Beirute resolveu fazer uma cartilha, um alerta para as mulheres brasileiras que
pensam em se casar com libaneses e se submeter às leis extremamente patriarcais
do Líbano.
“É saber exatamente onde vai pisar. As diferenças culturais, as diferentes jurídicas.
Se tem violência doméstica, com agressão física ou não”, conta o
cônsul-geral adjunto em Beirute Luiz Eduardo Pedroso.
Com um simples
telefonema às autoridades de imigração, o marido pode impedir a mulher de
deixar o país.
E frequentemente o consulado recebe brasileiras pedindo ajuda
para voltar para casa.
“Se o marido não botou o nome no aeroporto, há uma maneira de tirá-la daqui, mas tem que ser feito de forma discreta, etc e tal.
“Se o marido não botou o nome no aeroporto, há uma maneira de tirá-la daqui, mas tem que ser feito de forma discreta, etc e tal.
Se ficar jogando aos quatro
ventos o marido fica sabendo, no dia seguinte põe o nome, e ela não sai”,
explica Luiz Eduardo Pedroso.
Cônsul do Líbano em SP diz que país não trata mulheres de forma diferente.
Cônsul do Líbano em SP diz que país não trata mulheres de forma diferente.
O cônsul-geral do
Líbano em São Paulo diz que o país não trata as mulheres de forma diferente de
outros países.
“Nós temos casos de
violência doméstica, e até mesmo de estupros dentro e fora das famílias, mas
não é nada alarmante.
Neste ano, foi aprovada uma nova lei que protege as
mulheres contra a violência doméstica que nós estamos implementando”, afirma
cônsul-geral do Líbano em São Paulo Kabalan Frangie.
Libanesas se cansaram de ficar em silêncio.
Mas as libanesas se
cansaram de ficar em silêncio.
Recentemente, mais de cinco mil mulheres,
apoiadas por algumas centenas de homens, fizeram uma corrida pelas ruas de
Beirute para reclamar mais espaço na sociedade.
E entre as
corredoras-ativistas, a deputada que resolveu fazer da luta pelos direitos da
mulher uma bandeira para concorrer à presidência do Líbano.
“Ainda vivemos em
uma sociedade que tem uma mentalidade patriarcal, feudal e machista, com muita
discriminação”, afirma a deputada Nadine Moussa.
Nadine lembra que ela é uma das quatro mulheres entre 124 homens no parlamento.
Nadine lembra que ela é uma das quatro mulheres entre 124 homens no parlamento.
“Mulheres ainda não
são levadas a sério nesse país”, diz a deputada.
Deputada promete insistir na luta pelos direitos da mulher no Líbano
Mas Nadine promete
insistir nas próximas eleições.
Aisha fala dos abusos sempre que pode, para
expulsar o fantasma. Naíma dança com orgulho.
E as ativistas correm contra as
leis, contra o machismo e contra o tempo, fazendo o possível para chegar logo
ao século XXI.
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