Declarações foram feitas em depoimento à Polícia Federal, em Curitiba.
Ex-diretor da área internacional da Petrobras está preso desde quarta (14).
Segundo Cerveró, ele intermediou com Camargo o aluguel de sondas de prospecção para a estatal.
Já a respeito de Baiano, ele disse ter sido abordado apenas uma vez pelo lobista.
O conteúdo do depoimento está disponível no sistema de processo eletrônico da Justiça Federal.
No depoimento, Cerveró também falou das transferências de imóveis e de uma tentativa de transferir um fundo de previdência no valor de R$ 500 mil.
Essas movimentações motivaram o pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal (MPF).
Júlio Camargo é um dos investigados na Operação Lava Jato.
Partiu dele, em um acordo de delação premiada, o detalhamento das informações de que empreiteiras promoviam um cartel para definir quem ganharia as licitações junto à Petrobras.
Já Baiano foi citado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, como operador do PMDB para o recebimento e distribuição de propina para o partido.
A defesa de Baiano e o partido negam as acusações.
De acordo com Cerveró, Baiano o procurou diretamente apenas uma vez, no ano de 2000, para oferecer os serviços de uma empresa espanhola que ele representava, especializada em gás e óleo, áreas em que a Petrobras ainda engatinhava.
À época, o Brasil vivia o começo de uma crise energética, que, no ano seguinte, chegou ao ponto de haver racionamento de energia elétrica.
Para evitar novas crises, o governo pensava em investir em usinas termelétricas.
A empresa espanhola, conforme Cerveró, que ainda trabalhava como gerente executivo de energia, pretendia fazer uma parceria com a Petrobras para investir no fornecimento às usinas.
O contrato foi celebrado, mas de acordo com o ex-diretor, não teve valores significativos para a estatal.
Ele também negou que tenha recebido qualquer propina para a celebração do acordo entre a Petrobras e a empresa.
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O ex-diretor disse que o diretor da Toyo Setal atuava também como lobista na Petrobras.
No depoimento, ele conta que, em 2006, a estatal promoveu uma parceria com a empresa Mitsui, representada por Camargo, para a construção de navios-sonda e plataformas petrolíferas.
As duas companhias constituiram uma subsidiária no exterior que, mais tarde, alugou as embarcações para a própria Petrobras.
As embarcações iriam ser usadas na África.
De acordo com Cerveró, Baiano indicou Camargo, dizendo que este tinha contato com empresas que poderiam viabilizar o negócio.
A sul-coreana Samsung também participou do negócio, construindo os navios e plataformas.
O contrato, de acordo com Cerveró, foi de aproximadamente R$ 1 bilhão para cada uma das sondas.
Apesar do valor vultuoso, não houve licitação, mas o negócio foi aprovado pela Diretoria Executiva da estatal, da qual participavam seis diretores e o presidente da Petrobras.
Cerveró ainda diz que Baiano recebeu uma comissão pela indicação de Júlio Camargo para o negócio, mas que demorou a receber os valores devidos.
No entanto, ele não soube precisar quais foram os valores pagos.
O ex-diretor afirmou que a relação que manteve com Júlio Camargo e com Fernando Baiano foi apenas comercial e que, em nenhum momento, recebeu qualquer tipo de propina deles.
Por outro lado, no acordo de delação premiada, Camargo garantiu que pagou US$ 40 milhões de propina a Cerveró, para garantir o negócio.
Negou ainda que tenha empresas em nome dele no exterior.
Perguntado também se conhecia ou manteve contato com o doleiro Alberto Youssef, ele garantiu que nunca o viu pessoalmente.
Transferência de patrimônio
No depoimento, ele também falou a respeito da polêmica em torno da transferência de bens para familiares.
O Ministério Público Federal considerou que isso foi uma tentativa de evitar o confisco de imóveis e investimentos para pedir a prisão do ex-diretor.
Sobre o tema, Cerveró repetiu o que o advogado já havia adiantado.
Ele negou que as movimentações financeiras e imobiliárias tenham sido ilegais e disse que apenas decidiu antecipar a herança que deixaria aos filhos.
Em relação ao fato de ter feito as transferências com valores menores do que os de mercado, ele disse que usou o valor da compra para fins de imposto.
Afirmou ainda, que os imóveis foram comprados com recursos próprios.
Da mesma forma, falou sobre o investimento de R$ 500 mil que, segundo informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), decidiu resgatar antecipadamente.
A quantia estava em um fundo de previdência privada no nome de Cerveró.
A intenção, segundo o Coaf, seria enviar o dinheiro para outro fundo, no nome da filha dele, Raquel Cerveró.
No depoimento, ele afirmou que desistiu da transação ao ser informado dos impostos que precisaria pagar.
Conforme o Coaf, ele perderia mais de 20% do valor de face do investimento se tivesse feito o resgate.
Para os promotores, a perda dessa quantia só seria justificada se fosse para evitar o confisco de todo o patrimônio, em caso de condenação.
Mais cedo, o advogado de Cerveró, Beno Brandão, havia dito que o ex-diretor passa por problemas financeiros. "Ele era um diretor da Petrobras, que ganhava mais de R$ 100 mil por mês.
Em março do ano passado, ele deixou de receber isso", explica Brandão.
No depoimento, Cerveró detalhou que recebe R$ 10 mil de aposentadora e outros R$ 5 mil referentes ao aluguel de um apartamento da família em Ipanema, no Rio de Janeiro e que não possui outras fontes de renda.
Pasadena
A defesa de Cerveró entrou com um pedido de habeas corpus para o ex-diretor da Petrobras.
Não há um prazo para o julgamento do pedido.
No documento, os advogados afirmam que ele está disposto a falar não só sobre as relações sobre as quais é investigado diretamente, mas também sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, cujo relatório assinado por ele embasou a transação.
O negócio gerou prejuiízo de mais de R$ 1 bilhão à Petrobras.
A Polícia Federal, no entanto, pretende ouvir novamente Cerveró só sobre o negócio de Pasadena.
A data do novo depoimento ainda não foi marcada.
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