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quinta-feira, setembro 17, 2015

Parauapebas está longe de ser sustentável, aponta estudo inédito



Imagine você um município onde considerável número de adolescentes, em vez de estar na escola tomando lições de prevenção à gravidez precoce, antecipa aos 14 anos o diploma de “mãe”. 
Imagine também um lugar onde a conexão para acesso à internet é devagar, quase parando, sendo essa tecnologia um dos principais meios para rompimento da condição de isolamento no interior amazônico. 
Imagine mais: uma sociedade infestada por ladrões, onde furtos e assaltos à luz do dia deixam de ser exceção para se tornarem regra de sobrevivência, pelo menos para os fora da lei, que vagam impunes e a postos para o próximo ataque.

Seja bem-vindo a Parauapebas, o segundo mais rico município do Estado do Pará – em Produto Interno Bruto (PIB), ressalte-se – e onde a maioria dos indicadores de sustentabilidade rasteja e pede socorro.

Longe de ser o pior lugar do mundo para se viver, Parauapebas, um dos grandes motores da economia paraense, está muito distante de ser considerado um município sustentável. 
É o que revela o estudo da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), intitulado “Barômetro da Sustentabilidade de Municípios com Atividades Minerarias no Estado do Pará”, lançado na última sexta-feira (14) de agosto, em Belém.

O relatório de 41 páginas analisa o grau de sustentabilidade de Parauapebas e de outros 12 municípios de base mineral, a exemplo dos vizinhos Canaã dos Carajás, Ourilândia do Norte e Marabá. 
O referencial são 27 indicadores ligados aos Objetivos do Milênio (ODM) e, ao mesmo tempo, considerados sensíveis às ações imediatas do Estado. 
Os indicadores, aliás, estão distribuídos em Bem-estar Humano (20 critérios) e Bem-estar Ambiental (sete critérios).

Conforme o estudo, a situação de Parauapebas, numa escala de 0 a 100 para medir sua sustentabilidade, é “intermediária”, já que as pontuações do município foram 47 em Bem-estar Humano e 68 em Bem-estar Ambiental. 
Na prática, o município está a meio caminho de chegar a ser sustentável, mas diversas questões conspiram em favor do contrário e até parecem ser mais fortes, pelo menos no momento.

Os dados levantados para dimensionar o Barômetro compreendem uma realidade entre 2010 e 2014, justamente quando Parauapebas explodiu em população, crescimento econômico e empregos. 
Se traduzisse o cenário apenas de 2015, o resultado geral poderia ser catastrófico em decorrência da crise financeira que assola o município. 
SOCIEDADE.

Cuidar de sua gente é o maior desafio de Parauapebas.
 Para quem mora em Parauapebas, nem é preciso entender por que, de 0 a 100, o município não alcança sequer 50 pontos quando o assunto é Bem-estar Humano. 

No relatório do Barômetro da Sustentabilidade, todas as notas de insustentabilidade de Parauapebas estão dentro desse tema. 

Além dos altos índices de gravidez na adolescência, roubos e ineficiência da internet, Parauapebas desfila nas estatísticas oficiais com elevadas taxas de assassinato, evasão escolar no ensino médio e trabalho infantil, aliadas à precária distribuição de leitos hospitalares para sua população.

Os três únicos quesitos em que Parauapebas figura como “sustentável” são, a propósito, bastante questionáveis. 


O primeiro deles é energia elétrica, serviço ao qual 99,8% da população têm acesso, mas cuja quantidade prejudica a qualidade dado o número surreal de interrupções no fornecimento. 

A rede de distribuição de energia não cresceu na mesma velocidade em que a população local, e as consequências disso todos sabem de cor.

O segundo quesito “sustentável” é o índice de extrema pobreza. 


Deu-se assim porque a taxa de habitantes parauapebenses extremamente pobres caiu de 14,2% da população local em 2000 para 4,4% em 2010. 

Na prática, porém, como a população total mais que dobrou, o número absoluto de pobres se manteve praticamente estável nos últimos 15 anos: eram cerca de 10.200 pessoas em 2000; caiu para 6.800 em 2010; e voltou a subir a 8.400 em 2015, o que mostra que a miséria tornou a disparar no rico município de minérios em plena metade desta década.

Já o terceiro quesito, referente a PIB per capita, é o mais questionável de todos. 


Isso porque ele aponta uma suposta renda por habitante que é até linda de ver e de se orgulhar na teoria, porém, na prática, nunca existiu – e é totalmente fora da realidade.

RIQUEZA DE MENTIRINHA.


Por causa da indústria extrativa mineral, o PIB municipal, que é a produção de riquezas total de Parauapebas, é um dos maiores do Brasil. 


Em 2012, ano do último dado de PIB disponível, a riqueza municipal medida era de R$ 16,73 bilhões, dos quais R$ 13,67 bilhões eram da indústria. 

Mas a única indústria que existe no município é a extrativa mineral. E a empresa industrial que a opera é a mineradora Vale. 

Daí, os R$ 13,67 bilhões – ou 81,7% da economia parauapebense – são de autoria da Vale, empresa sem a qual, na atual conjuntura, Parauapebas provavelmente não existiria como é ou até existiria, mas seria apenas mais um lugar economicamente paupérrimo e socialmente atrasado do Pará.

Portanto, ruim com a Vale, muito pior sem a Vale, já que o município não desenvolveu, ao longo de 27 anos, estratégias de sobrevivência para além da atividade mineradora.


Longe de ser uma santa, a empresa financiou esperança de prosperidade ao comércio local e a milhares de trabalhadores desde sua instalação em solo parauapebense. 


A Vale fez de Parauapebas um dos lugares de mais rápido crescimento econômico e populacional do Brasil em menos de três décadas. 

Só que tudo tem seu preço, e Parauapebas paga com minério de excelência – hoje, cotado a preço de banana no mercado internacional.

Enquanto isso, a população que chegou aqui, no maior alvoroço (de carro, de van, de ônibus, de trem e até a pé), notadamente entre 2004 e 2012, vai saindo de fininho, pegando o beco para Canaã dos Carajás ou mesmo retornando à pátria de onde saiu. 


Nada melhor que uma crise econômica para mostrar quem, de fato, ama um lugar e quer nele fazer morada permanente, criar seus filhos e fazê-lo prosperar por tudo o que lhe deu.

Em razão de todas as peripécias da Vale, no auge da implantação de seus grandes projetos na Serra Norte de Carajás, muitos – cidadãos e autoridades políticas – ficaram tão cegos que acabaram se acomodando, pensando que a mineração é uma atividade eterna e que crise alguma pudesse abalar o setor, de maneira que Parauapebas viveria pela eternidade à base de pompa e circunstância, comendo dos royalties e do despejo da massa salarial cheia de participação de lucros e etecétera.


E aí está um dos pontos pelos quais o município não chega a ser humanamente sustentável: falta consciência da população, a mesma que divulga que o PIB per capita de Parauapebas é alto (R$ 100 mil), quando, na verdade, a média da população trabalhadora passa o mês com somente R$ 1.281. 


Quem, afinal, se não for corrupto, ganha salário de R$ 100 mil em Parauapebas?

Enquanto isso, o segundo município mais rico do Pará segue com índices de desemprego cada vez mais crescentes e uma taxa de esgoto correndo a céu aberto que envergonha qualquer África. 


É o Bem-estar Humano que temos para hoje.

MEIO AMBIENTE.

Floresta de Carajás só é preservada por causa da Vale.


A situação do Bem-Estar Ambiental de Parauapebas é uma das mais confortáveis entre os municípios minerários analisados, atrás apenas da condição de Ourilândia do Norte. 

E que a verdade seja dita: a Vale, neste quesito, tem grande influência no destaque positivo local.

Em dois importantes quesitos (estoque de florestas e desmatamento), Parauapebas ganha o título de sustentável. 


Entra em cena, então, o papel da mineradora e sua atuação como mantenedora da Floresta Nacional de Carajás (Flonaca). 

Certamente, se a tutela da floresta estivesse com qualquer outra organização (governamental ou privada), a Flonaca não estaria mais de pé, com o próprio aval de Parauapebas. 

Na Amazônia, sempre foi mais importante desmatar, por questões econômicas, do que preservar, quando a prioridade deveria ser o contrário, pelas mesmíssimas questões.

Da floresta para os rios. 


No tocante ao abastecimento de água, Parauapebas aparece como “potencialmente sustentável”. 

Mas que ninguém se engane: não é pelo coitado do rio que lhe empresta nome. 

Se fosse apenas pelo Rio Parauapebas, o município seria o rei da insustentabilidade, dada a situação de degradação a que condenaram o seu principal fornecedor de líquido precioso. 

Hoje, Parauapebas só está “potencialmente sustentável” porque debaixo de suas terras pulsa uma considerável rede hidrográfica que leva até mesmo artérias sofridas, maltratadas e estouradas, como o Igarapé Ilha do Coco, a não desistirem de viver, apesar de estar perdendo as forças e a batalha contra infames.

E como nem tudo são flores no quesito ambiental, além da precária rede de esgoto, que corre a céu aberto e, não raro, faz a sede urbana feder, como comida podre cozinhada sob o sol escaldante de quase 40 graus, Parauapebas ganha destaque negativo no Barômetro da Sustentabilidade pela alta incidência de focos de calor e queimadas.


Para se ter ideia de como o município literalmente pega fogo, em relatório divulgado na tarde deste domingo (16), o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) informa que, desde o dia 14, foram registrados em Parauapebas nada menos que 87 focos de calor, a maior parte dentro da cidade, que é monitorada por satélites de alta eficiência do instituto.


Ao que tudo indica, o município mais rico do interior paraense – e um dos que ainda têm florestas mais bem preservadas – insiste em caminhar à margem da sustentabilidade, ainda que alguma coisa ou outra dê certo. 


O fogo que o consome, por dentro e por fora, é um dos sinais de que muita coisa precisa mudar.


Fonte: noticiasdeparauapebas.com

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