Aposentada passou pelo Enem e faz Filosofia na UFU em Uberlândia.
'Foi a melhor coisa que aconteceu, ela está mais feliz e realizada', diz filha.
Sorriso de Aurora é sinônimo de sonho realizado
(Foto: Márcia Cristina/Arquivo Pessoal)
(Foto: Márcia Cristina/Arquivo Pessoal)
Foi assim que a aposentada Aurora Ferreira de Melo Breves conseguiu chegar à universidade aos 81 anos para estudar o que sempre quis: Filosofia.
Faltando 20 dias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o G1 conta essa história de inspiração.
A mineira participou do Enem e com a nota obtida conseguiu ingressar na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Hoje, ela está no 2º período do curso.
O caminho enfrentado por Aurora demandou dedicação.
Ela sempre quis estudar, mas devido às dificuldades financeiras teve que optar por trabalhar, a fim de conseguir sustentar e oferecer uma vida melhor aos três filhos.
“Eu morava em Ituiutaba e há 48 anos mudei para Uberlândia em busca de melhores condições.
Aqui eu virei costureira e tive o prazer de ver todos os meus filhos estudarem e se formarem na Federal.
Minha filha até se tornou juíza. Na época achei que meu sonho havia sido realizado por eles”, disse.
O tempo passou e quando a família achava que era hora de Aurora descansar e aproveitar a vida, ela se matriculou para fazer o ensino fundamental, aos 75 anos.
“Eu sempre li muito, cerca de um livro por semana, e me adaptei rápido a todo o processo.
Resolvi voltar a estudar depois que vi uma placa colada de frente a uma instituição de ensino dizendo: ‘Venha estudar com a gente, não importa sua idade’.
E eu, fui”, explicou.
Depois do fundamental, ela focou no Ensino Médio.
“Foram mais dois anos estudando e quando terminei a sensação era de felicidade, de realização”, afirmou.
Mesmo com o diploma nas mãos, a vontade de Aurora era continuar estudando.
Ela contou que na época chegou a procurar uma faculdade particular, pois estava disposta a investir as economias no sonho de cursar Filosofia, mas por causa da idade ela não foi aceita.
“A atendente me disse que era para eu viajar, dançar, descansar, pois a época de estudar já havia passado para mim”, relembrou.
Aurora está no 2º período de Filosofia da UFU
(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)
No ano passado, aproveitou que os netos fariam o Enem e também se inscreveu.
Dois dos filhos até tentaram convencê-la a não fazer a prova, mas foi em vão.
“Eu queria saber o que era o Enem e fui lá descobrir.
Não lembro a minha nota, mas sei que fui a primeira a entregar a prova no dia.
Resolvi todas as questões com uma hora e meia.
O tema da redação me agradou e acredito que essa nota me ajudou muito na hora da seleção”, disse.
Para a mineira,
só não estuda quem não quer.
“No meu primeiro dia de aula senti que havia realizado um sonho que por muito tempo ficou guardado.
Todo mundo me olhava e me achava diferente.
É claro que tem preconceito e que muitos me criticam pela minha escolha, mas isso faz parte da vida.
Tudo que eu consegui foi com muita alegria e esse mérito é meu, independentemente de questionamentos”, ressaltou.
Aurora acrescentou que está indo bem na faculdade e que já virou uma apaixonada pela filosofia de Aristóteles.
“Eu estou entusiasmada com essa nova fase.
Meu intuito agora é tirar os medos e anseios das pessoas, pois isso atrapalha o retorno aos estudos.
Na minha sala, por exemplo, havia uma mulher de 47 anos que passou, mas não estava indo à faculdade por se achar velha demais para aquele ambiente. Quando soube da minha história, retornou”, lembrou.
Ela concluiu dizendo que mesmo com 81 anos, viúva e universitária, ainda está aprendendo a viver.
“Eu ainda não sei de nada”, garantiu.
Apoiadora
Aurora espalha felicidade e realização por onde passa
(Foto: Márcia Cristina/Arquivo Pessoal)
(Foto: Márcia Cristina/Arquivo Pessoal)
“Eu acompanhei por toda a minha vida a vontade dela estudar.
Ela tentava fazer o supletivo, mas nunca ia para frente porque tinha que trabalhar e as provas, na época, só eram feitas em Belo Horizonte.
Como não tínhamos condições, ela não fazia.
Foi recentemente que conseguiu voltar a estudar”, disse.
Foi Márcia que inscreveu a mãe no Enem e depois no Sisu.
“Eu acho que todo mundo tem o direito de buscar o estudo.
No começo, meus irmãos falavam que ela não iria conseguir.
Hoje já pensam que foi a melhor coisa que aconteceu, pois ela está mais feliz e realizada”, comentou.
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