Nota: palavras chulas e palavrões foram mantidos no texto, porque são termos que ajudam na compreensão da mensagem.
Em áreas dominadas pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro, o conceito de estupro é diferente do descrito pelo Código Penal.
Para investigar esse mundo paralelo, o EXTRA ouviu três ex-traficantes de comunidades dos complexos da Maré e do Alemão.
Um deles resumiu a visão do que aconteceu com a jovem X., num fim de semana, no Morro do Barão, na Zona Oeste: “Pela lei dos homens é estupro.
Pela lei do crime é sacanagem”.
A visão bandida encoberta o crime, justifica o criminoso e despreza a vítima, que é nivelada ao patamar de quem comete o abuso.
Nesta visão distorcida, não é uma relação entre abusada e abusador.
“É puto com puta”, resume um dos ex-traficantes.
O caso de X. revelou que a visão dos bandidos é absorvida pelas vítimas de violência, tanto que a jovem era estuprada desde os 12 anos e só se deu conta da violência com a divulgação do vídeo.
Conceito de estupro
“Na comunidade, estupro é pegar a mulher à força, sem consentimento.
Esse tipo de coisa, nenhuma facção admite.
O tráfico também tem sua ética.
Estupro dá morte.
Um cara pode até esculachar uma mulher se ela começa a se envolver com outra facção, mas, ainda assim, é melhor matar do que estuprar.
O fato de ser menor de idade não tem nada a ver.
Na favela tem um monte de meninas com 13, 14 anos dando porque quer.
Elas buscam putaria.
Pela lei dos homens é crime, mas para o tráfico é sacanagem”.
Sob efeito de drogas
“Dizem que foi estupro porque X. estava doidona, não estava em sã consciência.
Se fosse assim, um cara que estivesse doidão de crack e desse um tiro em alguém poderia dizer que não estava consciente e não poderia ser punido”.
Vídeo com vítima
“É esculacho fazer aquele vídeo zoando a menina enquanto ela dorme, mas tem que pensar na orgia que aconteceu ali.
Você tá na sacanagem, tira uma foto, encosta o dedo lá...
Para quem está de fora, eles deram mancada.
Mas ali, na hora da sacanagem, é puta com puto”.
Orgias na favela
“É comum ter putaria na favela.
E tá cheio de menina de classe média e alta que vai lá para usar drogas e transar.
É um status estar perto do traficante.
Tudo o que o pai proíbe, ela faz.
Cheira, fuma, conhece um cara da boca e daqui a pouco está na casa dele.
Essas vão para usar drogas e se divertir.
Mas tem também as que vão para ganhar dinheiro, e saem com a bolsa cheia.
É orgia com 30, 40, 50 pessoas, e sempre regada de muito uísque”.
O abatedouro
“Toda favela tem um lugar assim.
O da Barão estava até meio feio.
Tem uns que têm suíte com o teto espelhado, outros põem até aquele poste de pole dance.
Vai de acordo com o poder aquisitivo do patrão.
Aí você está no baile com uma menina, pede a chave do lugar e vai para lá.
Assim que um sai, entra outro.
É normal”.
As novinhas
“Sempre teve novinha, mas antigamente, nos anos 80 e 90, era muito menos.
Até porque o baile não era assim.
Começava com charme e tinha aquele momento de música lenta para só depois tocar funk melody.
Agora, é putaria do começo ao fim.
Você vê uma mãe botando a filha de 5 anos para ouvir funk e achando graça de ver ela rebolando até o chão.
Nos anos 80, não tinha menor no baile e nem na boca.
Essa geração nova de traficantes deixa isso rolar solto”.
Fonte: EXTRA DIGITAL
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