Ele disse a investigadores que outra empresa pagou por dívida do PT.
Procurada nesta quinta, assessoria do partido não respondeu.
O empresário Carlos Cortegoso, dono da CRLS Confecções, admitiu em
depoimento ao qual a TV Globo teve acesso, prestado na última
quinta-feira (21) aos investigadores da Operação Custo Brasil, que
recebeu em 2010 pagamentos do PT por meio de caixa 2 (fora da
contabilidade oficial do partido).
Cortegoso afirmou no depoimento que, como quitação de uma dívida do PT,
a CRLS recebeu R$ 300 mil, em outubro de 2010, da Consist, uma das
empresas investigadas pela Custo Brasil – um desdobramento da Lava Jato
que apura supostas fraudes cometidas no Ministério do Planejamento em
operações de crédito consignado a servidores federais.
O ex-ministro do
Planejamento Paulo Bernardo é um dos suspeitos de integrar o esquema
criminoso.
Procurada pelo G1 desde a manhã desta quinta-feira, a
assessoria da direção nacional do PT não havia se manifestado até a
última atualização desta reportagem.
Responsável pela defesa de Cortegoso, o advogado Márcio Decreci afirmou ao G1
que não se manifestará sobre o depoimento.
“O processo corre em segredo
de Justiça. Me limito a não esclarecer nada por questão disso.
Neste
momento, não quero dar nenhuma opinião”, enfatizou.
A Consist disse à TV Globo que sempre colaborou com as investigações e
que não tem nada a declarar já que o processo corre em segredo de
Justiça.
Saiba mais:
Pagamento por serviços
O empresário admitiu aos investigadores que não prestou nenhum serviço para a Consist na eleição de 2010, mas explicou que recebeu o dinheiro como pagamento de serviços que havia realizado no passado para o PT e que ainda não haviam sido quitados.
Segundo Cortegoso, ele havia
acumulado um crédito junto ao partido.
Apesar de ter surgido a partir de investigações da Lava Jato, a Custo
Brasil foi desmembrada e enviada para a Justiça Federal de São Paulo por
ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) sob a alegação de que não se
referia diretamente às irregularidades cometidas na Petrobras, objeto
original das investigações da Lava Jato.
Além de representante da CRLS, Carlos Cortegoso é dono da empresa
Focal, de São Bernardo do Campo (SP), antiga prestadora de serviços de
campanhas petistas.
O advogado disse que, no papel, o cliente é dono da
CRLS, mas administra também a Focal, que faz parte do grupo empresarial
da família.
Movimentação financeira.
No relatório de indiciamentos da Operação Custo Brasil, a Polícia Federal informou que, em 2012, Cortegoso teve movimentação financeira 69 vezes superior aos seus rendimentos declarados.
Entre 2010 e 2013, ele
apresentou "variação patrimonial descoberta", ou seja, movimentou mais
do que declarou.
Na eleição de 2014, a Focal recebeu, aproximadamente, R$ 25 milhões
por serviços prestados para a campanha à reeleição da presidente
afastada.
A empresa de material gráfico e montagem de palanques foi a segunda
maior fornecedora da campanha petista, ficando atrás somente da empresa
do marqueteiro João Santana, um dos réus da Operação Lava Jato.
O representante da CRLS contou aos investigadores que presta serviços
para o PT desde 1989, ano em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disputou pela primeira vez a Presidência da República, mas acabou
derrotado por Fernando Collor.
De acordo com Cortegoso, as dívidas do PT com ele começaram a se
acumular em 2004, quando atuou em uma campanha petista para a Prefeitura
de Mauá, na Grande São Paulo.
Saiba mais:
Outras empresas
No mesmo depoimento da semana passada, Cortegoso disse às autoridades que – pouco tempo depois de ser pago por meio da Consist – também recebeu de outra empresa, a Politec, cerca de R$ 250 mil por serviços prestados ao PT.
Ele afirmou que recebeu do ex-ministro Luiz Gushiken, morto em 2013, a
orientação de procurar a Politec para receber parte do crédito que tinha
com o PT e também se comprometeu com os investigadores a averiguar se
recebeu mais pagamentos de dívidas do PT por meio de outras empresas.
"Que o pagamento da Politec foi um pouco depois dos pagamentos da
Consist e acredita que devem ter sido por volta de R$ 250.000,00, sem
prestação de serviços para Politec; que os serviços na realidade foram
prestados é para o PT; que afirma que quem orientou o declarante a
procurar a Politec não se recorda com quem da empresa Politec conversou
mas quem teria feito a indicação teria sido o falecido Luiz Gushiken",
diz o documento.
O dono da Politec, Hélio Oliveira, disse em depoimento prestado na
última quarta-feira (20) que recebeu da Consist em 2011 um pagamento por
um serviço prestado ao PT por indicação de João Vaccari Neto,
ex-tesoureiro do PT preso na Operação Lava Jato.
O G1 tentou contato com representantes da empresa nesta quinta, mas não conseguiu.
"Que o serviço que recebeu na Consist foi na verdade o pagamento do
serviço que a Politec havia prestado para o PT; que o declarante tem uma
planilha de contabilidade e alguns documentos relacionados à execução
do serviço e se compromete a encaminhar assim que possível", disse
Oliveira.
Apuração no STF
No Supremo existe uma apuração em andamento sobre prestadoras de serviço da campanha de Dilma em 2014, depois que a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar se houve crimes na aplicação de recursos durante a disputa eleitoral de 2014.
Os nomes das empresas estão sob
sigilo, e as suspeitas são de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
A Polícia Federal já pediu à Justiça de Brasília para quebrar sigilo
fiscal, bancário e de email de empresas e pessoas físicas que prestaram
serviços à campanha de Dilma em 2014.
A Justiça remeteu o caso para o STF em janeiro deste ano porque se
tratava de apuração envolvendo a campanha da presidente atualmente
afastada. Dilma, porém, não é alvo direto da investigação.
O relator do caso é o ministro Luiz Edson Fachin e atualmente a
apuração está sob análise da Procuradoria Geral da República, desde 23
de fevereiro, a quem caberá decidir se o caso correrá no STF – por
eventualmente envolver pessoas com foro privilegiado – ou se voltará
para a primeira instância da Justiça.
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