Profissão Repórter
Edição do dia 20/07/2016
Após tensões e polêmica, Belo Monte está quase concluída e em operação.
Moradores da região reclamam das consequências da construção da usina.
Em 2010, sob protestos de ambientalistas, processos e liminares judiciais que tentavam impedir a obra, o governo deu o passo definitivo para tirar do papel o projeto em debate há 35 anos.
A usina de Belo Monte foi inaugurada este ano, pouco depois de surgirem denúncias de corrupção nas obras.
O ex-senador Delcidio Amaral e um dos empreiteiros disseram que verbas da construção foram desviadas para financiar partidos políticos.
Segundo eles, o dinheiro ia para o PT e para o PMDB.
Todos os dias, ônibus da usina de Belo Monte deixam dezenas de trabalhadores na rodoviária de Altamira.
Há quatro anos, a situação era bem diferente.
Estima-se que a região de Altamira, no oeste do Pará, tenha recebido quase cem mil pessoas, desde o começo das obras de Belo Monte.
Com a parte de engenharia civil da obra quase no fim, pelo menos 22 mil trabalhadores já foram demitidos.
Com a cidade vazia, quem vive de comércio e serviços sente os impactos dessas demissões.
A situação também é difícil para os ribeirinhos do rio Xingu.
Quem vive da pesca, reclama da escassez de peixes na região da hidrelétrica.
Para a bióloga Cristiane Carneiro, da Universidade Federal do Pará, as explosões das encostas durante a obra e a forte iluminação dos canteiros causaram a morte dos peixes.
A interrupção do fluxo do rio também é outro motivo apontado por ela em um dossiê sobre a pesca no Xingu, elaborado pelo Instituto Socioambiental.
“Nós identificamos aqui um índice de oxigênio dissolvido na água de 2.18ml/l.
O ideal seria de 6ml/l para mais, então o oxigênio está muito baixo”, explica ela.
Os pescadores sentem os impactos da usina, mas não há compensação prevista para quem vive abaixo da barragem.
A Norte Energia afirma que fará correções nas compensações ambientais, se novos laudos acusarem impactos na região.
“Os estudos não identificavam a necessidade de trabalhar impactos nessa região, como os nossos monitoramentos identificaram que não ocorreram.
Se precisar fazer correções, serão feitas”, garante José de Anchieta, diretor socioambiental da Norte Energia.
O crescimento da violência é outro problema atribuído à obra de Belo Monte.
Os últimos dados de homicídios colocam Altamira como a quinta cidade onde mais se mata no Brasil.
A Norte Energia, responsável pelas obras da usina, fez um convênio com o estado do Pará e investiu R$ 100 milhões em segurança.
A nova penitenciária vai ficar pronta em setembro, seis anos depois do começo da barragem.
Falta saneamento básico em 90% das moradias.
As equipes da prefeitura de Altamira passam o dia fazendo reparos na rede de saneamento construída pela Norte Energia, mas a principal crítica é a de que as ligações da rede saneamento com as casas não foram construídas e, apesar da cidade conseguir fazer o tratamento da água, o abastecimento não alcança a toda a população.
A ex-presidente do Ibama, Marilene Ramos, foi a responsável por conceder a licença de operação para a usina de Belo Monte.
Ela diz que a Norte Energia atendeu a maior parte das condições e, por isso, a usina recebeu licença de funcionamento.
“O empreendedor cumpriu 92% dessas condições.
Nos casos onde não houve uma justificativa adequada pelo descumprimento, o empreendedor foi multado.
Nós temos mais de R$ 60 milhões em multas por descumprimento de condicionantes ambientais dadas à Norte Energia.
O que se fez foi uma repactuação para o cumprimento dessas condicionantes que faltaram”.
Entre esses novos pontos acordados está a ligação da rede de esgoto com as casas.
A Norte Energia promete entregar a obra até setembro.
O Ministério Público Federal quer cassar a licença da usina pelo atraso na solução do problema do saneamento na cidade.
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