Decreto que oficializa o registro será assinado por prefeito da cidade.
Para especialista,o caipiracicabano é uma marca cultural do município.
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do Rio Piracicaba, um dos símbolos da cidade que tornou o sotaque
patrimônio imaterial (Foto: Helder Prado/ Arquivo pessoal)
O decreto, que oficializa o linguajar caipira local como identidade cultural da cidade, será assinado nos próximos dias pelo prefeito Gabriel Ferrato.
Identidade cultural
Para a professora do curso de Letras da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Danielle Pinelli, esse tombamento é um fato importante para a história e cultura da cidade.
"A linguagem é um bem que um indivíduo tem e muita vezes ela é reveladora da cultura do falante, porque nós refletimos pelo nossa língua quem nós somos", disse.
"Como o piracicabano tem uma variedade na língua muita rica, de termos e de pronúncia, o sotaque acaba sendo uma marca de identidade do próprio indivíduo da cidade.
Então, existe uma importância histórica mesmo em relação a linguagem do caipiracicabano", completou a professora.
Ainda de acordo com Pinelli, é incorreto dizer que o piracicabano fala errado.
“Não podemos falar em erro, pois o que acontece é que o indivíduo, às vezes, não conhece a forma culta da língua.
E também temos que considerar que existe a norma padrão da língua, que ela é prescrita pela gramática, mas existe o reconhecimento da língua em uso.
Por isso, na sociolinguística não falamos em erro, mas em adequação da linguagem”, explicou.
Saiba mais:
A professora da Unimep também observa que apesar da urbanização da cidade, os piracicabanos mantém o sotaque caipira como uma forma de preservar sua cultura.
“O piracicabano tem orgulho da língua dele.
Esse orgulho e essa vontade de continuar usando essas expressões como uma marca mesmo de alguém que gosta da cidade e quer manter essa identidade", ressaltou.
'Arco, Tarco, Verva'
O escritor e jornalista Cecílio Elias Neto criou há mais de 20 anos o livro "Arco, Tarco, Verva" (álcool, talco, água velva, na tradução para o português oficial), que é um "dicionário do dialeto caipiracicabano".
O catálogo tem mais de 200 páginas com dados históricos e curiosidades sobre o vocabulário local.
Cecílio pesquisa o sotaque há décadas e conta que, na época do Império, o "erre" carregado também era muito mais comum na capital paulista.
"Quando foram instalar a faculdade de direito em São Paulo, o Senado Imperial vetava porque dizia que São Paulo não sabia falar, que São Paulo falava tudo errado", disse.
Confira exemplos de expressões típicas em Piracicaba e no interior de São Paulo:
Proseia = conversa
Lonjura = distância
Absurdado = espantado
Pagá a língua = ser punido pelo que disse
Queimá paia = conversa fiada, à toa, sem relevância
Põe reparo = observa
Tisorá = falar mal
Apeá = ir
Negadinha = grupo de pessoas
Bardeá = transportar de um lugar para outro
Cardo com massa = sopa
Cascá o bico = rir muito
Réiva = raiva
Arco = álcool
Tarco = talco
Mió du boi = carne bovina de qualidade
Enverga mai num quebra = resiste
Carque duro = realizar uma tarefa com disposição, vontade; colocar com força
Arruinô = infeccionou (ferimento)
Trupicá = tropeçar
Um tirinho = rápido
Sarto = Salto (do rio)
Fórfe = fósforo
Forfé = confusão
Carcule = pense direito
Reio = chicote
Traia = amontoado de coisas, objetos úteis ou inúteis
Picá o trecho = fazer o caminho de sempre, ir embora
Picá a mula = fugir em velocidade
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