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sábado, dezembro 17, 2016

Especialista indiano teme que a Vale seja a nova Petrobras

Aswath Damodaran, um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo
Aswath Damodaran, um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo



   

 




Alice Lee/The New York Times

Para o indiano Aswath Damodaran, considerado um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo, um investidor precisa ir onde "a coisa está preta" e, por isso, este é o momento de olhar para o Brasil. 

Mas com cautela. 

Dono de ações da Vale desde o final do ano passado, sua preocupação não é o preço do minério de ferro, mas se o governo brasileiro aumentará a ingerência na companhia.

"Meu medo é que, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale", diz. 

Segundo Damodaran, o estrago feito pelo governo na Petrobras foi tão grande que levará tempo para que ela possa se reerguer. 

"A Petrobras cavou um buraco profundo e será difícil sair dele agora", afirma.
*
Folha - Em fevereiro, o senhor classificou a Petrobras como uma "calamidade" e um exemplo perfeito de como destruir valor. 

A situação ainda pode piorar?  
DAMODARAN - Mesmo sem corrupção, as peças estavam colocadas para que a companhia fosse destruída. 

Sempre fiquei impressionado com os engenheiros da Petrobras. 

A pergunta era: como pessoas tão inteligentes e bem treinadas podem destruir uma empresa? 

Bem, desde que a Petrobras está aí, o comando é escolhido a dedo por Brasília. 

E a motivação da diretoria, dada pelo governo, era fazer da Petrobras a maior companhia de petróleo do mundo. 

É um objetivo muito ruim de se ter ao tocar uma empresa, o de transformá-la na maior em vez de na mais eficiente, na mais bem gerida e na mais valiosa. 

Ter como meta tornar-se a maior é algo ruim ou foi a forma como se buscou isso?
 

Eles [o comando da Petrobras] estavam tentando fazer o que foi pedido: tornar a Petrobras a maior petroleira da face da terra. 

E como se faz isso? 

Busca-se reservas mesmo se não houver sentido econômico. 

Você fica tão focado em erguer um império que se esquece de que é um negócio e você tem de fazer dinheiro para que ele siga em frente. 

Investiram sem olhar as consequências.

A Petrobras anunciou nova venda de ativos. 

É o melhor caminho?
 

Nesse estágio, a Petrobras não tem outra escolha. 

Ela deve bilhões, o barril está a US$ 50 dólares e o governo não pode resgatá-la. 

Então, ela tem de fazer o que é necessário para sobreviver. 

Mas deveria fazer isso de maneira mais organizada. 

Em vez de vender em pedaços toda vez que precisa de dinheiro, deveria pensar nos ativos que realmente quer ficar. 

Na hora da venda, ir atrás de quem está disposto a pagar um valor razoável. 

Se você seguir colocando os ativos no mercado, abertos para qualquer interessado, que é como a Petrobras está fazendo agora, vai encontrar ofertas ruins. 

Ela está oferecendo sempre que precisa de dinheiro e as pessoas sabem que ela está desesperada. 

Também não venderia nada para os chineses. 

São famosos por barganhar muito.
 
Quem tem ação da Petrobras, deve vender?

Bem, eu não compraria por causa do tamanho da dívida. 


Mesmo se o barril for a US$ 78, que é um cenário otimista, ela não gerará receita suficiente para cobrir a dívida. 

A Petrobras cavou um buraco e será difícil sair dele agora. 

Mas é como um quebra-cabeça complexo. 

Você não pode consertar somente uma peça. 

A Petrobras precisa realmente de um recomeço. 

Então, não pode pagar dividendos gordos. 

Precisa dar aos que possuem ações preferenciais o direito a voto e aí dizer "não podemos pagar os dividendos". 

Os acionistas não vão concordar com um corte nos dividendos se não tiverem algum controle da empresa. Não há solução por partes. 

No caso da Petrobras, a solução tem de ser tudo ou nada. 

A empresa tem de se tornar uma petroleira com ações de mercado comandada como um negócio privado ou tem de voltar a ser uma petroleira estatal - neste caso, o governo pode fazer o que quiser com ela. 

O que a Petrobras está tentando fazer é ter as duas coisas. 

Não vai sobreviver assim.

O senhor evitou analisar o impacto da corrupção no caso da Petrobras. Por quê?

Corrupção é um problema sério, mas torna-se pior quando num país como o Brasil. 


Empresários brasileiros sempre reclamam das diversas camadas de regulação, de licenças e de regras. 

O Brasil não é mais ou menos corrupto. 

Mas, quanto mais regras diferentes existem, maior a chance de haver corrupção em cada etapa. 

A corrupção vem da forma como a Petrobras foi estruturada. 

Ela é um sintoma do problema. 

Se você não o conserta, pode pegar todos e colocar na cadeia e, em cinco ou dez anos, você vai repetir todo o processo. 

O que me assusta é que a estrutura da Vale não é tão diferente à da Petrobras. 

Sou acionista da Vale. 

O governo tem ação de ouro ["golden share", que dá direito a veto] e muita influência sobre quem comanda a empresa. 

A situação da Vale hoje é como estar num família na qual o filho mais velho estava sendo castigado e ela, por ser caçula, escapou. 

Meu medo é que, agora que o mais velho está no hospital, eles pensem: talvez devêssemos fazer o mesmo com o mais novo. 

Ou seja, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale, onde a estrutura é tão similar.

Na Vale, há sócios como Bradesco e Mitsui. 

Não é mais difícil fazer tal estrago?

Apesar das demais forças na Vale, o governo brasileiro é dominante. 


Tem mais poder que qualquer outra entidade. 

Seria mais difícil fazer o que fizeram na Petrobras, porque muitos dos projetos da Vale estão fora do Brasil. 

Replicar o sistema de corrupção e pagamento de propina, por exemplo, no Canadá, onde Vale tem projetos, é mais difícil.

O senhor disse que perdeu dinheiro com Vale, mas decidiu manter a ação mesmo assim. 

Por quê?

Não ganhei dinheiro ainda, mas estou disposto a manter. 


Vejo a Vale como uma mineradora global, mais barata que rivais e sem o endividamento da Petrobras. 

Mas estou atento, buscando algum sinal de que a empresa possa estar embarcando em algo destrutivo.

O senhor disse que talvez estivesse deixando seu desejo de estar certo se sobrepor ao bom senso no caso da Vale. 

Como o investidor comum pode identificar que não está sendo levando pela emoção?

É algo muito difícil. 


Talvez fazer um trato: serei honesto comigo por pelo menos cinco minutos do dia. 

Em nossa mentes, tendemos a mudar o porquê de termos comprado tal ação e culpar os outros quando as coisas vão mal. 

Então, mantenha um diário. 

Todo dia escreva como seu portfólio está. 

Duas ou três linhas. 

E, quando comprar, seja claro sobre as razões que o fizeram escolher a ação. 

Não precisa fazer como eu faço, usando o método de "valuation" [análise matemática do valor que a ação deve ter]. 

Se você escolhe ações ouvindo seu especialista na TV ou no rádio, escreva isso. 

E releia. 

Se você estiver cometendo o mesmo erro muitas vezes, vai aparecer no diário.

Está avaliando ação de outra empresa brasileira?

Estarei no Brasil em algumas semanas e olharei algumas. 


Estou buscando empresas menores. 

Olho para companhias como Natura e penso: se o mercado está sendo atingido, empresas grandes serão atingidas também. 

É a contaminação. 

Lembre-se que o governo brasileiro fez da Petrobras a joia da coroa. 

A mensagem era: "o que acontecer com Petrobras, acontece com Brasil também". 

Fizeram isso nos tempos de bonança. 

Agora essa ligação está prejudicando o país. 

As pessoas olham e pensam: "veja o que está acontecendo com o símbolo do país, vou vender tudo e seguir em frente".

A quebra das empresas de Eike Batista afetou a credibilidade do país?

As pessoas têm memória curta. 


Daqui a alguns anos, vão se esquecer do escândalo da Petrobras também. 

Eike Batista tinha um ego enorme. 

Ele é como Elon Musk. 

Você não pensa na Tesla [fabricante de veículos elétricos] sem pensar em Musk. 

Batista era maior que suas companhias e isso é sempre problemático. 

Humanos com grandes egos tendem a fazer coisas estúpidas e ele fez coisas estúpidas. 

Naquele momento, avaliaram que era um problema de Eike Batista, não do setor ou do mercado como um todo. 

Acho que estavam errados sobre isso. 

Você chegou investir em ações de alguma empresa de Eike?
Não (risos). 


Tento evitar ações em que a personalidade do dono é a empresa. É sempre arriscado. 

Não compro nem Berkshire Hathaway, porque estaria comprando Warren Buffet. 

E pessoas fazem coisas estúpidas, envelhecem e morrem.
 
O governo brasileiro está tentando ganhar a confiança dos investidores com medidas de ajuste fiscal. 

Elas ajudarão a restaurar a confiança nas empresas brasileiras?

Confiança demora pra se recuperar. 


Meu conselho para o governo brasileiro é que às vezes menos é mais. 

Menos coisas bem feitas têm um efeito melhor. 

O Brasil não voltará à década de 90. 

Vocês darão três passos adiante e dois passos para trás. 

Esse é o momento dos dois passos para trás. 

Os investidores vão se esquecer e voltar. 

Mas vai demorar um pouco. 

Assim que o assunto Petrobras for colocado para trás, o processo de recuperação poderá começar. 

Nesse momento, o governo brasileiro pode anunciar todas as coisas boas que quiser, mas aí você tem prisões e outros bilhões [em fraudes] sendo descobertos. 

É preciso que o caso da Petrobras chegue ao fim. 

Enquanto estiver lá, será uma ferida aberta.
 
O que tem hoje em seu portfólio?
 

É sempre bem diverso e nunca muito concentrado em um setor ou mercado. Compro quatro ações ao ano. 

Mantenho em média por oito a dez anos. 

Vez ou outra invisto numa empresa como Facebook por um período mais curto. 

Não tenho medo de tomar riscos e ir a mercados emergentes. 


Tenho, por exemplo, Lukoil [petroleira russa]. 

Nas minhas aulas digo sempre para ir onde está "a coisa está preta". 

Por isso, estou interessado no Brasil neste momento.


COMENTÁRIO: 

Não aceitaria investir em ações da mineradora Vale nem que fosse para lucrar bilhões de reais, porque me sentiria cúmplice de ficar bilionário com a destruição da natureza e do meio ambiente que esta mineradora provoca no planeta terra.


Valter Desiderio Barreto.

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