Por Yvonne Maggie
Tão logo assumiu o posto de secretário municipal de educação do Rio de Janeiro,
Cesar Benjamin iniciou um diário em uma rede social, onde relata os andamentos,
os acontecimentos, algumas reuniões e as suas impressões.
Suas anotações
revelam que mesmo com pouco dinheiro e enfrentado inúmeras adversidades, tendo
como parceiros professores, estudantes e familiares, tudo ia fluindo com muita
garra.
Na quinta-feira passada, dia 30 de março,
às 11 horas da noite, postou no seu diário a triste e inadmissível notícia do
assassinato de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, nas dependências
da Escola Jornalista Daniel Piza em Acari.
A morte da estudante, destroçou sua
mãe e seus familiares e encheu de dor os brasileiros, especialmente a os
profissionais da educação, estudantes e o secretário.
O dia havia sido de
tiroteios em várias regiões da cidade e muitas escolas não funcionaram deixando
centenas de alunos sem aula.
No post seguinte, sexta-feira, 31 de março,
o secretário mostrou a foto de uma escola municipal no Complexo da Maré onde
todas as crianças estavam deitadas no chão para escapar dos tiros.
E assim
continuou a semana seguinte, com relatos de tiroteios, várias escolas sem aula
e muitas crianças fora da escola com medo de serem atingidas pela loucura de
adultos.
No domingo, dia 2 de abril, em carta aos
profissionais de ensino público, Cesar Benjamin descreveu as circunstâncias da
morte da estudante.
Sem medo afirmou que Maria Eduarda fora atingida por quatro
tiros fatais, partidos das armas de policiais militares, no momento em que
caçavam dois traficantes armados circulando nas redondezas da escola.
O secretário não esmorece. Continua
descrevendo suas ações para organizar a vida escolar e tentar curar a ferida
aberta depois da morte de uma estudante de 13 anos dentro de uma escola onde
deveria estar protegida.
No dia 6 de abril, no seu diário, lançou um
abaixo-assinado a ser distribuído nas escolas.
O objetivo do documento é o de
pais e professores interferirem para que as autoridades de segurança do Estado
do Rio de Janeiro marquem uma reunião com ele, para formalizar “protocolos
claros e rígidos, elaborados em comum acordo, para que a ação policial não
ameace a rotina das escolas e a vida de seus integrantes”.
O abaixo-assinado
solicita, também, que os “comandos de todos os batalhões da Polícia Militar
recebam representantes das comunidades escolares de suas áreas de atuação para
debater a situação em cada região da cidade e oferecer garantias públicas de
que esses protocolos serão respeitados.”
Inacreditável!
As autoridades de segurança
do Estado do Rio de Janeiro, incluindo a Polícia Militar, não estavam recebendo
o secretário de educação da capital mesmo depois da morte de uma menina dentro
de uma escola.
Triste sina de um país que prefere seguir matando inocentes na
inútil guerra contra as drogas.
O diário do secretário é fundamental para
que possamos ter a exata medida da vida em uma cidade conflagrada por uma
guerra que não é nossa.
Uma guerra que se instalou por ordem do presidente norte-americano
Richard Nixon em 1971 quando declarou o uso de drogas ilegais “o inimigo
público número um”.
A partir daí as políticas públicas em todo o mundo
enfatizaram mais a repressão. Milhões são gastos no combate ao uso de drogas e
muito pouco é feito para sua prevenção e descriminalização.
Cinquenta anos depois da ordem de Richard
Nixon, a "Global Commission on Drug Policy", comissão da qual
participam personalidades do mundo inteiro, divulgou um relatório sobre o tema
no qual afirma: “A guerra às drogas falhou”.
O diário do secretário municipal de
educação esporte e lazer do Rio de Janeiro nos ajuda a pensar sobre a história
absurda de uma época em que escolas são alvejadas e crianças são mortas em nome
da luta contra as drogas e perseguição de traficantes, os bruxos do século XX e
XXI.
Um dia acordaremos assustados ao descobrirmos que, como os bruxos
queimados na era moderna, os bruxos contemporâneos não existem, foram
inventados pelo demônio instalado na mente dos vendedores de armas.
Nascimento: 3 de setembro de 1944 (72 anos), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
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