Mulher teve de pagar fiança de mais de R$ 10 mil para responder aos crimes em liberdade. Pai de Maria Grazzioli alegou ao G1 que filha fugia de bandido que a assaltou no trânsito.
A procuradora do Estado Maria Helena Martone Grazzioli, de 54 anos, foi
presa em flagrante sob suspeita de embriaguez ao volante, fugir do
local de acidente e desacato porque teria atropelado um ciclista, batido
o carro em um táxi e ainda xingado policiais civis.
O caso ocorreu na
madrugada de terça-feira (20), na República, Centro de São Paulo.
Em entrevista ao G1 nesta
quarta-feira (21), o pai da procuradora, o advogado Hylson Martone, de
89 anos, disse que sua filha só bateu num automóvel após ter sido
roubada no trânsito da Avenida São João e fugir do criminoso.
Ele disse
que a filha não falaria com a imprensa.
“Ela não fugiu do local, ela fugiu de bandido”, disse Hylson, que negou
que Maria Helena estivesse bêbada ou ainda tenha atropelado um ciclista
ou ofendido policiais.
“Ela foi assaltada.
Levaram celular e documento
do carro.”
Segundo ele, a procuradora foi levada a uma audiência de custódia na
Justiça, onde foi solta após pagar uma fiança arbitrada pelo juiz para
responder ao processo em liberdade.
O valor da fiança foi de mais de R$
10 mil, informou, em nota, a assessoria de imprensa do Ministério
Público (MP).
“Está tudo resolvido agora.
Foi um acidente banal, não
teve nenhuma consequência”, disse Hylson.
Segundo a Promotoria, a Justiça suspendeu a Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) da procuradora a pedido do promotor Eduardo Augusto
Vellosso Roos Neto.
Maria Helena trabalha na Procuradoria Geral do Estado (PGE).
Procurada,
a assessoria do órgão informou que vai instaurar processo
administrativo para apurar a conduta dela.
O caso
De acordo com o boletim de ocorrência do caso, registrado no 2º
Distrito Policial (DP), no Bom Retiro, a procuradora dirigia seu Land
Rover Freelander branco quando, por volta da 1h40, atropelou um ciclista
na Rua Marquês de Itu.
Em seguida, o veículo dela “teria abalroado a traseira” de
um táxi, modelo Renault Logan branco, que estava parado no semáforo da
Rua Rego Freitas por causa do farol vermelho.
"Ouvimos um barulho.
Estava com um passageiro e ele disse: 'Olha, o carro atropelou um
ciclista'.
Eu olhei no retrovisor o carro veio para cima do meu e
acertou a traseira.
Em seguida, o carro bateu novamente", disse o
taxista Nilton Reis Dias.
Sobre o ciclista, o taxista disse que "ele levantou mancando, pegou a
bicicleta e saiu de lá".
De acordo com o registro da delegacia, o
taxista contou que Maria Helena pediu para ele “pegar o celular para
ligar para a polícia”, mas quando fez isso, ela “se aproveitou e
acelerou o veículo e se evadiu do local”.
"Ela me disse assim:
'Se você acha que eu bati em seu carro, liga para a polícia'.
Eu peguei o
celular para fazer a ligação e ela deu ré e fugiu.
Nesse meio tempo, o
passageiro desceu do meu carro."
O taxista então afirmou que decidiu entrar no táxi e seguir o carro da
mulher, que dirigia com “excessiva velocidade”, passando por três sinais
vermelhos, nos cruzamentos da Rua Rego Freitas com o Largo do Arouche,
com a Avenida Duque de Caxias e com a Avenida São João.
"Uns policiais
apareceram e falei que ela tinha acabado de bater no meu carro e estava
fugindo.
Foi quando ela foi abordada por eles.
Não queria sair do carro,
demorou muito, mas saiu.
Ela completamente fora de si, foi um vexame",
disse Dias.
Ação policial
O boletim de ocorrência informa que o Land Rover parou quando foi
abordado por uma viatura do Grupo Armado de Repressão a Roubos e
Assaltos (Garra), onde estavam dois policiais civis.
Eles contaram que
um outro taxista os havia alertado que o automóvel de Maria Helena havia
atropelado um ciclista.
Segundo os policiais do Garra, a mulher só aceitou deixar o carro após “muita insistência” deles.
E que constataram que ela “encontrava-se com a capacidade psicomotora alterada em razão da ingestão de álcool porque exalava forte odor etílico”.
De acordo com os agentes da Polícia Civil, Maria Helena ainda "estava
bastante alterada, urinada, e os ofendeu”, os xingando de “cavalo,
jumento” e que eles “ganham salário de fome e que jamais teriam um
veículo igual ao dela” e também os empurrou.
Nesse instante, os policiais deram “voz de prisão em flagrante delito” a
mulher e a levaram para o 2º DP.
Na delegacia, ela chegou
“completamente alterada, aparentemente sob influência de álcool ou
qualquer outro tipo de droga”.
Os agentes também contaram que Maria Helena continuava se portando “de
forma inconveniente, promovendo escanda-lo desmedido e somente dizia que
havia sido roubada, assunto que até aquele momento ela não havia
tocado”.
O registro policial informa que os agentes tentaram “de todas as
formas” que ela ligasse para o seu advogado, mas a mulher “afirmava que
não lembrada o telefone dele”, e não aceitou que os policiais ligassem
para seus parentes porque “não iria incomodar nenhum familiar” dela.
Como se recusou a fazer o teste do bafômetro com um policial militar do
Batalhão de Trânsito, Maria Helena foi levada ao Instituto Médico Legal
(IML) para exame de dosagem alcoólica e de corpo de delito.
Mas quando chegou ao IML, a mulher se negou a entrar no instituto para
fazer exame e volto a “fazer escanda-lo”.
O médico legista então foi até
o estacionamento onde viu Maria Helena.
Na volta do IML, os policiais contaram que ela “sacou da bolsa uma
carteira funcional de cor vermelha, apresentando-se como procuradora do
Estado”.
Novamente na delegacia, a mulher “manteve o seu comportamento
inconveniente, investindo inclusive contra os policiais, sendo contida
pelo delegado” do Garra.
Foto da carteira circula no WhatsApp.
E somente às 4h30, Maria Helena “resolveu ligar para a mãe” e “implorou
aos berros que viesse busca-la na delegacia porque ela não havia feito
nada” porque “era tão comente uma vítima de roubo”.
CNH suspensa
A procuradora foi indiciada por embriaguez ao volante (que prevê pena
de 6 meses a 3 anos de prisão), fuga de local de acidente (6 meses a 1
ano) e desacato (15 dias a 3 meses).
Como a soma das penas ultrapassa o mínimo legal que autoriza o delegado
a arbitrar fiança, Maria Helena foi levada para audiência de custódia
na Justiça.
De acordo com o MP, “a procuradora foi ouvida na audiência de custódia
às 12h11 pelo promotor de Justiça Eduardo Augusto Velloso Roos Neto.
O
MP por meio da medida cautelar pediu a suspensão da habilitação e a
fixação de fiança de 12 salários mínimos, o que foi aceito pelo juiz”,
informa a nota da Promotoria.
“A investigação continua sendo conduzida
pela Polícia Civil.”
O Land Rover de Maria Helena e o táxi do taxista passariam por perícia
do Instituto de Criminalística (IC).
“O ciclista envolvido no evento não
foi identificado até o presente momento”, informa o registro policial.
Além da mãe, o pai da procuradora, o advogado Hylson, também compareceu
ao 2º DP.
“Acho que o delegado exagerou”, reforçou Hylson.
“Ela estava
nervosa numa cidade de bandido. Ela não exagerou nada.
Ela só fugiu de
bandido, tem que frisar isso”.
O caso será investigado pelo 3º DP, Santa Ifigênia, que deverá ir ao
local em busca de imagens de câmeras de segurança que possam ter gravado
a série de acidentes que teria sido causada pela procuradora.
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