Os três delatores da Lava Jato foram chamados a dar explicações sobre gravação que aponta que omitiram informações na delação. Rodrigo Janot mandou abrir investigação para apurar suspeitas.
Por Camila Bomfim e Renan Ramalho, TV Globo e G1, Brasília
O empresário Joesley Batista – um dos donos da holding J&F –, o
diretor de Relações Institucionais do grupo, Ricardo Saud, e o advogado
da empresa Francisco de Assis e Silva chegaram na manhã desta
quinta-feira (7) à sede da Procuradoria Geral da República (PGR) para
prestar depoimentos e esclarecer o conteúdo do áudio que aponta omissão de informações dos três delatores aos investigadores da Lava Jato.
Joesley chegou a Brasília em seu jatinho particular por volta das 10h.
Do aeroporto, o empresário seguiu direto para o prédio da PGR.
O depoimento também atende ao pedido da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, de investigar falas dos delatores envolvendo ministros da Corte.
Na conversa, Joesley e Saud discutem como gravar o ex-ministro da
Justiça José Eduardo Cardozo para ele “entregar” ministros do STF, o que
poderia reforçar a delação dos executivos.
Os depoimentos dados à PGR, de qualquer forma, também vão embasar o
processo de revisão da delação premiada conduzido pela própria PGR.
Caberá ao órgão depois pedir ao ministro Edson Fachin, relator do caso
no STF, uma eventual rescisão do acordo – com perda dos benefícios – e
outras medidas contra os delatores.
Na última segunda-feira (4), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou a abertura de investigação para apurar
indícios de omissão de informações de práticas de crimes no acordo de
delação premiada dos executivos do grupo J&F, controlador do
frigorífico JBS.
Segundo Janot, dependendo do resultado da investigação, os benefícios
oferecidos no acordo de colaboração de Joesley, Saud e Assis poderão ser
cancelados.
O áudio que pode levar à anulação dos benefícios dos delatores da
J&F foi gravado, aparentemente por descuido, em 17 de março.
Na
conversa de quatro horas, Joesley Batista e Ricardo Saud falam de uma
suposta atuação do ex-procurador da República Marcello Miller para
ajudar os executivos da holding a fechar a delação, que garantiu, entre
os benefícios, imunidade penal aos delatores.
À época, Miller ainda
trabalhava no Ministério Público.
Em um dos trechos da gravação que está sendo investigada pela PGR,
Joesley Batista relata ao diretor de Relações Institucionais que Marcelo
Miller incentivou o procurador-geral da República a fechar acordo de
delação premiada com os executivos da J&F.
O dono da JBS ressalta ainda a importância de eles se aproximarem de
Miller para "chegar no Janot" e, com isso, negociarem a delação premiada
com imunidade penal, que assegurou que os delatores da empresa não
seriam denunciados pelo Ministério Público.
No bate-papo, Ricardo Saud também conta que Marcelo Miller repassava informações a Janot por meio de um "amigo em comum".
Miller trabalhou com Janot durante três anos, período no qual atuou nos
casos ligados à Lava Jato. Ele deixou a PGR em abril deste ano e passou
a atuar no escritório de advocacia Trench Rossei e Watanabe, que atende
a JBS.
Como advogado, o ex-procurador Miller chegou a atuar nas negociações da
JBS para fechar um acordo de leniência, mas o escritório no qual ele
trabalhava deixou o caso antes do fechamento do acerto.
Em julho, Miller
foi desligado do escritório.
Agora, a PGR também quer apurar os motivos
da saída do ex-procurador da banca de advocacia.
Na segunda-feira, após Janot anunciar a investigação para apurar
eventuais irregularidades na delação dos executivos da J&F, a
assessoria de Marcelo Miller divulgou uma nota na qual o ex-procurador
se dizia inocente.
"Marcello Miller tem convicção de que não cometeu qualquer crime ou ato
de improbidade administrativa e informa que está à disposição das
autoridades para prestar todos os esclarecimentos", diz o comunicado de
Miller.
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