Conflitos são marcados por alto número de deslocados internos, desrespeito aos direitos humanos e situação de severa insegurança alimentar.
Por G1
Milhares de mortos, violações de direitos humanos, guerra de milícias.
Apesar de graves, os conflitos que assolaram países como Iêmen,
República Democrática do Congo, Somália e Sudão do Sul em 2017
permaneceram "esquecidos" pela opinião pública, e relativamente à margem
do debate na comunidade internacional.
No Iêmen, por exemplo, o fato de a população estar totalmente bloqueada
no território -- apesar dos protestos de organismos internacionais --
faz com que o acesso da mídia seja muito difícil, e pouco se saiba, de
fato, sobre o que acontece no país.
Já na República Democrática do Congo, o clima de instabilidade
instaurado em dezembro de 2016, diante de mais uma crise política, se
arrastou para 2017, e provocou uma nova onda de refugiados, de acordo
com a ONU.
A Somália vive em estado de guerra e caos desde a década de 1990, e
pouco tem sido feito pela comunidade internacional para melhorar a
situação do país.
Já no Sudão do Sul, desde o ano passado, um frágil
acordo de paz alcançado entre os dois lados do conflito é regularmente
desrespeitado, submetendo sua população à fome e à insegurança.
A atuação do grupo extremista Boko Haram, por sua vez, jogou numa crise
humanitária cerca de 17 milhões de pessoas, especialmente mulheres e
crianças, na fronteira entre Camarões, Chade, Níger e Nigéria.
Conheça abaixo um pouco sobre cada uma dessas "guerras esquecidas".
O conflito,
que se arrasta desde março 2015, já deixou pelo menos 5 mil civis
mortos, incluindo 1.120 crianças, e mais de 8.500 feridos, de acordo com
dados do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
De um lado da guerra estão os houthis, rebeldes xiitas apoiados pelo
Irã.
Do outro lado, a Arábia Saudita lidera uma aliança árabe para
conter o avanço dos houthis, e conta com o apoio dos Estados Unidos.
Há
também outros atores envolvidos no conflito como tribos sunitas, a
Al-Qaeda e até o Estado Islâmico.
A tensão começou a se acirrar na Primavera Árabe, em 2011, quando os
houthis participaram de protestos contra o então presidente e se
aproveitaram de um vácuo no poder para expandir seu controle territorial
em algumas regiões do país.
Após anos expandindo seu controle, em setembro de 2014 os houthis
conquistaram a capital, Sanaa.
No início de 2015, o presidente Abd Rabbo
Mansur Hadi foi forçado a fugir para outra cidade do Iêmen e depois
para a Arábia Saudita.
Os houthis dissolveram o Parlamento e formaram um
conselho presidencial para governar.
Em março de 2015, a Arábia Saudita passou a liderar uma aliança árabe
para conter o avanço dos houthis.
A aliança tem o apoio dos Estados
Unidos e faz bombardeios aéreos constantes às áreas dominadas pelos
rebeldes.
Em dezembro de 2017, o ex-presidente Ali Abdullah Saleh foi morto enquanto tentava deixar a capital do país,
Sanaa.
Saleh, que abandonou a presidência do país em 2012, foi aliado
dos houthis durante três anos na guerra civil.
Ele havia rompido com o
grupo poucos dias antes de morrer.
Segundo a ONU e a Anistia Internacional, uma série de violações de
direitos humanos vêm sendo observadas no conflito e a situação
humanitária se deteriora rapidamente.
Entre os abusos denunciados pelas
organizações estão o bombardeio de hospitais, escolas e áreas
residenciais e o recrutamento de crianças soldado.
Cálculos da ONU estimam que 3 milhões de pessoas deixaram suas casas, 7
milhões de pessoas estão passando fome e cerca 80% da população precisa
de ajuda humanitária.
A situação de insegurança e instabilidade política no país se tornou
mais exacerbada no final do ano passado, quando o presidente Joseph
Kabila se recusou a deixar o poder mesmo depois de cumprir dois mandatos
– o previsto pela Constituição – que terminaram em Dezembro de 2016.
Pelo menos 70 grupos armados atuam na região leste do país e aproveitam
lacunas deixadas pelo governo para controlar diversas comunidades, de
acordo com a organização americana Council of Foreign Relations.
Nos últimos meses, os conflitos entre grupos rebeldes e forças de
segurança deixaram centenas de mortos no leste do país.
Já na província
de Kasai, na região central da RDC, combates entre milícias e forças de
segurança deixaram 3.383 mortos de outubro de 2016 até junho deste ano,
segundo estimativas da igreja católica.
O clima de instabilidade faz com que milhões de civis precisem deixar
suas casas: dados da ONU estimam em 2,7 milhões o número de deslocados
internos e aproximadamente 450 mil refugiados em outros países.
A situação na RDC também faz com que a ONU mantenha sua maior e mais
cara missão de paz do mundo no país, com cerca de 19 mil capacetes
azuis.
O país mais jovem do mundo, independente desde 2011, está em guerra civil desde dezembro de 2013.
Em 23 de dezembro deste ano, foi anunciado um cessar-fogo, que ainda não se sabe o quão duradouro será.
O conflito armado no Sudão do Sul começou quando o presidente Salva
Kiir (de etnia dinka) acusou o ex-vice-presidente Riak Machar (da tribo
rival nuer) de ter orquestrado um golpe de Estado.
Diferentes milícias
se uniram a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de
caráter étnico.
Apesar de ambas partes terem assinado um acordo de paz em agosto de
2015, o conflito – que se transformou em uma série de confrontos étnicos
- foi retomado em julho de 2016, deixando milhares de mortos e milhões
de deslocados.
A fome também é um problema crônico do Sudão do Sul: seis milhões de habitantes, metade dos moradores do país, dependem de ajuda humanitária para se alimentar e pelo menos 100 mil passam fome, segundo a ONU.
Desde o começo dos combates, cerca de 50 mil pessoas morreram, e o
conflito fez com que mais de 1,5 milhão de pessoas fugissem do país,
transformando o Sudão do Sul "na maior crise de refugiados da África" e
"na terceira do mundo" atrás de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur.
De acordo com a organização Human Rights Watch, grandes partes de
cidades importantes e áreas essenciais da infraestrutura do país – como
clínicas, hospitais e escolas – foram pilhadas, destruídas e
abandonadas.
A organização também aponta para abusos por parte do
governo, incluindo prisões arbitrárias de políticos, jornalistas e
membros da sociedade civil.
Em 2016, o Acnur já havia dito que a crise do Sudão do Sul recebe pouca
atenção e sofre "níveis crônicos de falta de financiamento". No ano
passado apenas 33% do montante de US$ 649 milhões solicitado pelo
organismo foi recebido.
Os conflitos armados no país envolvem forças do Estado, da União Africana, milícias e o grupo extremista Al-Shabab.
Soldados deste último grupo geralmente atacam bases militares e alvos
civis e tentam derrubar o governo central apoiado pela ONU e pela União
Africana.
Em julho deste ano, um estudo revelou que a Somália integra uma lista com dez países onde ocorrem 75% de todos os ataques terroristas no mundo, ao lado de Iraque, Afeganistão, Índia, Paquistão, Filipinas, Turquia, Nigéria, Iêmen e Síria.
O país vive em estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador
Mohamed Siad Barre foi derrubado.
Isso deixou o país sem um governo
efetivo e em mãos de milícias radicais islâmicas, senhores da guerra que
respondem aos interesses de um clã determinado e grupos armados.
A última eleição realmente democrática na Somália aconteceu em 1969.
Além de praticarem ataques terroristas como o que matou mais de 350 pessoas em outubro,
em Mogadíscio, os jihadistas também impedem o acesso de grupos
humanitários, o que agrava a fome no país, atingido ainda por uma forte
seca.
No início deste ano, a ONU estimou que mais de 6 milhões de somalis
precisavam de ajuda urgente, o que correspondia a mais de metade da
população.
Em fevereiro, o governo decretou catástrofe nacional e a Unicef estimou
que 270 mil estavam em estágio de desnutrição grave.
Segundo a ONU, 950
mil crianças menores de cinco anos sofreriam desnutrição aguda neste
ano, das quais 185 mil morreriam se não recebessem tratamento médico
imediato.
A atuação do grupo extremista Boko Haram, especialmente na fronteira
que abrange os territórios dos Camarões, do Chade, do Níger e da
Nigéria, vem levando violência para a região e fazendo com que milhões
de pessoas deixem suas casas.
Embora a atuação do grupo seja mais focada no nordeste nigeriano e no
território camaronense, o conflito ultrapassou fronteiras e envolve,
atualmente, forças desses outros países.
Segundo a emissora “Al Jazeera”, pelo menos 17 milhões de pessoas,
especialmente mulheres e crianças, são afetadas pela crise humanitária.
De acordo com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, 35 mil
pessoas foram mortas pelo Boko Haram desde o começo do conflito – em
2009 – apenas na Nigéria, e dois milhões deixaram suas casas na Nigéria e
nos Camarões.
Dados do Unicef também dão conta de que nos três primeiros meses de
2017, pelo menos 27 crianças foram usadas pelo grupo para perpetrar
ataques suicidas.
Desde 2014, foram 117 crianças.
O Boko Haram também
promove diversos atentados suicidas, mirando especialmente civis.
Este ano, o grupo libertou dezenas de estudantes sequestradas depois de serem mantidas como reféns por mais de três anos.
Em 2014, os terroristas invadiram uma escola em Chibok, no estado
nigeriano de Borno, e conseguiram sequestrar 276 meninas que se
preparavam para fazer suas provas.
Este caso, sim, teve grande
repercussão internacional à época.
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