Além do casal, o ex-gerente da área Internacional da Petrobras, Eduardo Musa também prestou depoimento nesta segunda (5). Mônica voltou a mencionar o pagamento de R$ 10 milhões via caixa 2 para a campanha do ex-presidente.
Por Adriana Justi, Erick Gimenes e Bibiana Dionísio, Do G1 PR, Curitiba
O ex-marqueteiro do PT João Santana e a mulher e sócia dele, Mônica
Moura, prestaram depoimento como testemunhas de acusação no processo
sobre o sítio de Atibaia, nesta segunda-feira (5), e reafirmaram que
houve caixa dois na campanha para reeleição do ex-presidente Lula, em
2006, pago pela Odebrecht.
O casal fechou acordo de delação premiada em abril de 2017 e está em liberdade desde agosto.
Diariamente, eles são monitorados por uma tornozeleira eletrônica.
Mônica disse que a campanha custou R$ 18 milhões mais ou menos 8 em
doações oficiais e R$ 10 milhões em caixa dois.
Segundo João Santana,
esses valores eram aproximadamente de 20% a 30% do valor oficial da
campanha.
À
época, a empresária disse que o pagamento foi feito em dinheiro vivo em
sacolas, caixas de roupa e de sapatos em uma loja de um shopping de São
Paulo.
A mulher de João Santana também disse que só teve "contato social" com
Lula e que nunca falou de dinheiro com o ex-presidente ou esteve
presente "nas reuniões de cúpula, de decisões políticas e estratégicas".
Este processo é o terceiro relacionado à Operação Lava Jato, que está
em tramitação em Curitiba, envolvendo o ex-presidente Lula.
A acusação trata do pagamento de propina de pelo menos R$ 128 milhões
pela Odebrecht e de outros R$ 27 milhões por parte da OAS em troca de
contratos com a Petrobras.
Conforme a denúncia, Lula foi beneficiado com
parte desse dinheiro, por meio de obras realizadas no sítio Santa
Bárbara, em Atibaia.
As obras, conforme a denúncia, serviram para adequar o imóvel às
necessidades de Lula.
Segundo o MPF, a Odebrecht e a OAS custearam R$
850 mil em reformas na propriedade.
João Santana diz que não conhece o sítio
O ex-marqueteiro relatou ao juiz Sérgio Moro que nunca foi ao sítio e que não sabia de detalhes sobre a propriedade.
"Inclusive, quando se referia nesse período ao sítio do presidente eu
imaginava que fosse um sítio que eu tinha conhecido há muitos anos
atrás, que era um sítio que ele tinha perto de uma represa em São
Paulo", argumentou Santana.
O delator e ex-gerente da área Internacional da Petrobras, Eduardo
Musa, também prestou depoimento no processo e afirmou que não tem
nenhuma informação sobre a reforma no sítio de Atibaia.
"Não conheço o
assunto", afirmou.
Doações não contabilizadas.
Mônica Moura disse que recebeu pagamentos não contabilizados, do
Partido dos Trabalhadores e também de outros partidos, em várias
campanhas políticas.
"Não existe campanha política no Brasil sem
dinheiro não contabilizado".
Os repasses eram feitos de duas maneiras: em dinheiro vivo e em depósitos no exterior, segundo ela.
Ela disse ainda que recebeu os valores de caixa dois da Odebrecht em
2006, para a reeleição de Lula, e em 2010, para a eleição de Dilma.
Ela
negociava os pagamentos com Antônio Palocci e com João Vaccari Neto.
Mônica Moura afirmou também que ela e João fizeram o marketing político em campanha para a presidência de El Salvador,
porque "o PT tinha interesse, não só em El Salvador como em vários
países da América Latina, que a esquerda ganhasse as eleições".
A
campanha, diz ela, foi financiada pelo partido salvadorenho (doações
legais) e pela Odebrecht (caixa dois), com intermédio de Palocci.
Moro nega pedido de adiamento dos depoimentos
Antes das testemunhas começarem a falar, as defesas de Fernando Bittar e
de Lula pediram o adiamento dos depoimentos porque, segundo eles, o MPF
apresentou documentos e vídeos prestados durante a colaboração que eles
ainda não tinham tido acesso.
Segundo os advogados, tomar o depoimento
na mesma data representaria um cerceamento de defesa.
Moro indeferiu o pedido e disse que o MPF deveria ter juntado os
elementos antecipadamente para evitar discussões.
O juiz disse ainda que
como as testemunhas residem em outra cidade, adiar os depoimentos
implicaria em ônus considerável de deslocamento para as testemunhas.
Apesar de negar o pedido, Moro deu o prazo de cinco dias para que as
defesas examinem os depoimentos e documentos e, caso tenham perguntas
complementares, peçam a reoitiva das testemunhas.
Os procuradores do MPF disseram que os vídeos juntados no processo já haviam sido anexados anteriormente.
O que diz a defesa de Lula.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, reafirmou que o sítio não é
do ex-presidente Lula.
Na avaliação dele, os depoimentos desta
segunda-feira não serviram para reforçar a acusação.
O advogado disse também que não há nenhuma prova contra Lula.
“O fato é
que não se atribui a propriedade ao ex-presidente Lula e isso está
muito claro na própria denúncia.
Não há nenhum elemento, nada, que possa
mudar esta situação”, afirmou o advogado.
Segundo Zanin, aquilo que consta na denúncia não é verdadeiro.
“A acusação não tem a menor procedência”.
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